Os Beatles já diziam: all you need is money, money is all you need. Por isso que a volta do funcionamento dos shoppings na cidade maravilhosa foi adiantada de modo a viabilizar as vendas especiais para o dia de hoje. É que é dia dos namorados e o dinheiro, assim como o coronavírus, está no ar.
Imagino a reunião sobre a reabertura:
“Reabriremos os shoppings dia dezessete, ok? É mais seguro.”
“Dia dezessete? E vamos perder as vendas do dia dos namorados?”
“Ops. Não tinha pensado nisso.”
“Pois é bom pensar. Já perdemos o dia das mães.”
“Senhores, com sua permissão. O relatório técnico salienta que uma reabertura em curva ascendente é um tanto precoce e pode resultar em...”
“Cale a boca. Ninguém pediu sua opinião.”
“... é que...”
“Solicite um novo relatório.”
“Perdão?”
“Um relatório que diga que é seguro abrir no dia dos namorados.”
“Mas já foi difícil conseguir um que falasse no dia dezessete!”
“Dobre a oferta.”
“Mas.”
“Triplique a oferta, ora pombas! Não podemos perder as vendas do dia dos namorados! Em nenhuma outra data é possível vender um cartão de dia dos namorados dois mil e vinte. É como calendário: se não vender, encalha.”
“Sim, senhor.”
Minutos após a saída do pobre Sensato (cargo comissionado, desnecessário dizer), os dois restantes se encaram silenciosamente. Até que:
“Acho que os cartões são datados manualmente.”
“Quê? Que cartões?”
“Acho que escrevem as datas à mão. Não perdem validade.”
“Ah, que se dane! Que se dane!”
E lá se vão abrindo todas as portas. Corrijo: portas específicas. O leitor, a depender de sua classe social, saberá quais permanecem fechadas. Afinal de contas, os empresários desse país precisam lucrar, e o dinheiro, assim como o coronavírus, precisa circular. Quer dizer: circular não é um bom verbo, pois o que circula, inevitavelmente volta. O dinheiro precisa... fluir. Acho que fluir é um verbo mais justo (pro dinheiro, pro coronavírus é circular mesmo).